• segunda-feira, março 07, 2022

     



    Elio estava caindo em direção a morte certa nas águas de uma corredeira pedregosa após tentar salvar o Pokémon em apuros de uma garota desconhecida. Ele não poderia imaginar que esse fosse seu destino final.


    Em seus braços o pequeno Pokémon nebulosa, que a garota de chapéu branco havia chamado de Nebby, tremia. Seu corpo estava quente ao toque, embora em alguns pontos parecia muito mais.


    O que você é? 


    Seu coração estava disparado. Sua mente gritava até que as memórias de toda a sua vida passaram como um filme diante de seus olhos. 


    Os anos em Galar, a professora Magnólia, a Sônia, Victor e seus outros amigos, sua mãe, e seu pai. A morte de seu pai. Será que vou encontrar o papai? Será que existe mesmo algo depois disso? Que estranho, e pensar que o papai já passou por esse momento… Será que vai doer muito? Será que vai ser rápido?


    Fechou os olhos esperando o impacto.


    Mas o impacto não veio. Estava demorando. Que precipício fundo! pensou por fim. 


    Seu interior ainda estava gelado, mas a corrente de ar que batia contra seu rosto agora estava suave. Quase como uma brisa, parecia que ele estava… Subindo?


    O garoto abriu os olhos e tremeu quando olhou para baixo, uns 4 metros de seu rosto, a água corria revolta entre as rochas negras do leito do rio. Elio tomou coragem de olhar para cima, e para sua surpresa um ser o segurava pelo calcanhar. Um ser negro com grandes apêndices laterais amarelos, que mais lembravam escudos, esses se encontravam no fim de extremidade completamente negros que imaginou serem os braços, esses que o seguravam firmemente. 


    A criatura olhou para Elio. Olhos profundos, uma mistura de verde claro e laranja, era como se suas pupilas trovejassem. Mas a expressão não era severa. Embora o jovem não pudesse dizer que era amistosa. Do topo de sua cabeça se projetava uma enorme crista de penas laranjas e amarelas e seu dorso era todo tatuado. Não havia dúvidas, era a mesma criatura que ele havia visto no avião quando havia chegado em Alola.


    — Eu estou morto? Você é um daquele Shinigamis, os deuses da morte?


    Nenhuma resposta.


    Elio começou a temer. Não via seu corpo estatelado lá embaixo, talvez a corredeira já tenha o levado Pensou.


    — Mamãe, por favor, me perdoe — falou para ao vento enquanto continuava a ser içado pela criatura emplumada.


    O Pokémon nebulosa em seus braços parecia comemorar esquecendo completamente de seus ferimentos causados pelos Spearow mais cedo. 


    — Ah, então Pokémon e humanos vão para o mesmo lugar quando morrem? - perguntou para a criaturinha sorridente, talvez na esperança de obter algum tipo de resposta. Nada, somente a comemoração despercebida.


    Quando finalmente chegou na borda do penhasco uma figura feminina de cabelos loiros, e vestida totalmente de branco, incluindo seu enorme chapéu de aba, os encarava atônita com o rosto vermelho, a garota dona de Nebby! 


    Aí ocorreu a Elio que talvez ele não tivesse morrido afinal de contas.


    A criatura emplumada o largou de qualquer jeito no chão à borda do penhasco e Elio caiu como uma Berry podre. Com muito esforço se sentou de mal jeito, quase deitado, escorando os cotovelos em terra. A garota loira correu em direção aos dois.


    — V-vocês estão bem? — a voz dela estava embargada — Ah que bom, fiquei tão preocupada quando-


    A garota percebeu o Pokémon emplumado se aproximando flutuando. Pegou uma vareta qualquer no chão e ficou brandindo ela desajeitadamente na frente de si com os olhos fechados.


    — S-sai, sai, nós não somos comida — dizia ela trêmula e com voz baixa, quase sumindo.


    — Ai! — o garoto exclamou ao ser acertado no rosto pelo graveto desgovernado.


    — Ah, perdão! — a voz ainda era baixa e trêmula.


               O Pokémon continuou se aproximando lentamente, flutuando, até estar a um metro de Elio.


    — Não acho que ele queira nos machucar. Do contrário já teria feito, ou simplesmente teria nos deixado cair na corredeira — ponderou Elio olhando fixamente nos olhos da criatura — Você é Tapu Koko, não é? A deidade guardiã da ilha de Melemele.


    Tapu Koko assentiu positivamente.


    — Muito obrigado por nos salvar — Elio se forçou a sentar-se de forma minimamente digna e sorrir para quem o havia resgatado.


    Tapu Koko parou de encarar Elio e voltou seus olhos profundos para Nebby, que saltitava como quem diz que queria um bis de toda aquela ação. A deidade deu de costas e voo a plena velocidade para o outro lado da ilha, deixando um rastro de ar ionizado por onde passava. Foi o voo mais rápido que Elio já havia visto em toda sua vida até então. Todos os pelos do corpo do garoto se eriçaram e no mesmo instante reconheceu o odor que sentira no voo quando chegou à Alola.



    Elio ainda tinha muitas perguntas para o Pokémon, mas resolveu simplesmente aproveitar o fato de que estava vivo.


    — Minha nossa, você está todo arranhado — a garota se virou para Elio — P-erdão, era eu quem deveria ter salvo o Nebby, ele é tão fraco que não pode se defender sozinho e eu…


    — Tá tudo bem, só tome mais cuidado por onde você anda — tentou dar um sorriso simpático em meio a dor dos arranhões que ardiam — Mas afinal de contas, o que você estava fazendo se esgueirando para esse lugar? É obviamente proibido.


    — Eu… eu — a garota hesitou muito olhando para todos os lados menos para os olhos de Elio.


    — Ah, tudo bem, não importa — O garoto desistiu, e se levantou com dificuldade, puxou a esfera negra, a luxury ball, e se direcionou para uma rocha fincada na terra perto da beirada do precipício, que parecia menos ameaçador de alguma forma. Apontando a esfera para a rocha redonda no chão — retorne Metraton — um raio vermelho se projetou da esfera desmaterializando o Pokémon rocha, deixando somente a cratera redonda vazia no lugar onde este havia caído — Muito obrigado pela ajuda, pedregulho imprestável. 



    O garoto rumou para Lillie sentada enquanto abraçava Nebby e brigava com ele, como se faz com uma criança sapeca. Então o garoto pisou em algo que o fez parar. Tirando o pé de cima e se agachado para analisar melhor, o rapaz viu uma rocha, muito diferente de qualquer rocha que havia visto antes: Era uma pedra branca como mármore, mas mais rústica, quase como um pedregulho, pequenas manchas negras estranhamente simétricas, desenhavam padrões por toda a rocha. Pontos multicoloridos também se projetavam, amarelos, azuis e vermelhos. E o mais estranho de tudo, a rocha parecia reluzir. Não sabia se era a luz do sol ou se era uma luz própria, mas aquilo definitivamente brilhava.


    — O que é isso? — Elio levantou o rosto em direção à Lillie que já havia se levantado. 


    A garota se aproximou.


    — Está bem onde Tapu Koko, ãhn, pousou — Lillie apertou Nebby nos seus braços.


    — Será que ele deixou cair?


    — Não sei dizer, mas acho que sei de alguém que pode ajudar.


    — Ah, por falar nisso! Meu nome é Elio — Estendeu a mão para um aperto de mão.

    — Perdão, com toda essa confusão esqueci de me apresentar — A garota estendeu a mão, agora parecendo mais recuperada do susto — meu nome é Lillie.


    Após se apresentarem apropriadamente, os dois chegaram à conclusão que deveriam voltar para a vila e tomaram a trilha de volta para Iki. Ambos hesitaram em contar a história, pois sabiam que estavam passíveis de levar uma bela repreensão por estar em um lugar proibido e principalmente por quase morrer no processo. Mas ao final concordaram que era o mais adequado. Até pelo fato de eles terem de pedir ajuda para devolver o artefato que Tapu Koko deixara cair. Se sentiam obrigados após a deidade salvar Elio e o pequeno Nebby.


    — Aliás, que Pokémon é o Nebby? — Elio perguntou com uma curiosidade científica. Como filho de um cientista, Elio imaginava ao menos ter passado o olho por uma fotografia de cada Pokémon existente.


    — Ah, ele? Bom… — Lillie hesitou mais uma vez — Não sei ao certo — falou por fim, evitando o olhar de Elio.


    — Entendo… Talvez seja uma espécie nova? — Elio começou a olhar mais atentamente para o pequeno que flutuava contente perto do chão, próximo aos pés de Lillie.


    — Acho que sim — Lillie parou, se abaixou, tirou a enorme bolsa esportiva que carregava junto consigo e abriu o zíper — Nebby, já para dentro!


    A pequena nebulosa pareceu protestar, mas após a garota dizer seu nome com mais ênfase — Nebby! — Ele rumou pesadamente, se é que Elio podia dizer isso, pois ele flutuava, mas se não fosse o caso, poderia jurar que ele pisou bem forte no chão como birra. 


    Após o Pokémon entrar na bolsa a menina fechou o zíper. O garoto estranhou a cena, mas não perguntou nada pois já achava estar perguntando demais.


    Os dois continuaram em silêncio pela trilha em um silêncio incômodo até chegarem na vila. Não demorou para alguém notar os dois jovens saindo da área restrita totalmente esfarrapados, principalmente Elio. Eles levaram Elio e Lillie para dentro da grande casa na parte alta da vila e os advertiram severamente a — ficarem com o traseiro grudado naquele sofá — como disse um homem mais velho dos organizadores do festival. Elio até tentou se explicar mas acabou não ouvido, sendo informado que o Kahuna iria falar com eles. 


    — A gente vai resolver isso, Lillie, não se preocupe — Elio estava preocupado. Ele não conseguia deixar de pensar que Tapu Koko tinha deixado cair aquela pedra e que não queria ver aquelas caretas representadas nos totens na vida real. E se Tapu tivesse achado que ele havia o roubado?


    Longos dez minutos se passaram até que a porta se abriu num estrondo e um senhor muito forte entrou. O mesmo senhor que Elio havia pensado ter ajudado antes.


    — Então vocês são os dois encrenqueiros que entraram em território Tapu? 


    Elio hesitou por um instante. Lillie levantou e se curvou em reverência.


    — É-é, somos nós sim, senhor — Elio admitiu, estranhando o ato da garota nervosa — estamos esperando o tal Kahuna para recebermos nossa punição.


    — Eu sou o Kahuna, pode me chamar de Hala.



    O rosto do homem já era severo na conversa normal, mas estava dez vez mais.


    — vocês têm noção da confusão que se meteram ou que poderiam ter se metido? Tapu Koko não é um ser tão benevolente com invasores.


    — E-eu não tinha ideia senhor Hala, foi tudo culpa minha — Lillie despejou tudo tão rápido e fazendo uma reverência tão pronunciada que Elio pensou que a garota fosse cair para frente.


    — Eu realmente não esperava uma atitude tão estúpida assim da assistente do Professor Kukui — asseverou Hala. Elio se espantou ao escutar as últimas palavras de Hala, assistente de seu tio?


    — Assistente do professor? — Elio deixou escapar baixinho.


    — E você, garoto de Galar, achei que fosse mais bem educado do que isso! — Hala se sentou numa cadeira de bambu de frente para o sofá onde Lillie e Elio estavam sentados — Vou reportar isso para o Kukui e para seus pais, Elio, eles que cuidem de vocês, por enquanto só fico aliviado que estejam vivos. Mas escutem, há um motivo de existirem aquelas placas de restrição, aquele é considerado território Tapu, ou seja, sagrado para Tapu Koko, se ele os considerasse indignos seriam mortos em segundos.


    Os três ficaram em um longo silêncio após Hala expirar essas últimas palavras. Lillie tremia. Elio também, mas após ter chegado tão perto da morte naquele dia ele não se sentia tão impressionado.


    — Senhor Hala, devo dizer que sinto muitíssimo pelo fato de essa senhoria e eu termos cometido tão grave falta, não se repetirá.


    — Acho bom. — Hala assentiu por fim — Agora tenho que ir resolver algumas coisas na vila, fiquem bem aqui até que eu volte — Hala olhou o relógio de parede atrás de si.


    — Senhor Kahuna Hala, tem mais uma coisa que gostaria de lhe deixar ciente — Elio tomou coragem.


    — Não pode esperar que eu volte, criança?


    Elio tirou a pedra do bolso e mostrou para Hala, até fez menção de dizer algo mas foi interrompido pelo avanço veloz do Kahuna em sua direção.


    — Onde você encontrou isso? — A voz severa de Hala estava com um tom trêmulo.


    — Tapu Koko deixou cair quando me salvou de cair da ponte.


    — Você caiu da ponte? — Hala se assustou duplamente — e Tapu Koko te salvou?


    — Quanto a isso… — Elio olhou para Lillie que olhou pela primeira vez nos olhos de Elio, seus olhos verdes brilhavam com apreensão. — Pois é, tentei atravessar a ponte e ela se rompeu.


    — Isso é impossível, ela estava velha, mas era necessário um golpe muito forte de um Pokémon para a fazer se romper — Hala olhou com o cenho franzido para os dois


    — Não acha que devemos devolver isso para ele? Ele pode sentir falta — Elio sugeriu


    — Não é assim que funciona, criança, Tapu Koko nunca se engana a ponto de perder uma Pedra Cintilante desse jeito — Hala parecia tentar montar um quebra cabeça na mente — E se você a encontrou quer dizer que ele queria que você a encontrasse


    — Mas por que motivo ele ia querer isso, sendo que de fato quem me salvou foi ele? Eu quem deveria dar algo à ele, não?


    — Você vai dar, sua vida, ao menos parte dela — Hala falou sem mudar a expressão.


    Elio ficou sem voz e se enrijeceu no sofá.


    — Como assim, senhor Kahuna?


    A conversa foi interrompida quando Kukui entrou pela porta com pressa.


    — Boa noite turma, estão prontos para um baita festança?



    Após ser contextualizado da conversa Kukui puxou a orelha de Lillie, mas não com muita força.


    — Lillie, pare de se meter em confusão — falou sem se alterar nem mudar o tom de sua voz.


    — S-sinto muito senhor Kukui — Os olhos da garota estavam marejados.


    — Isso tudo tem haver com o Nebby, não é mesmo? — Kukui deduziu. Lillie olhou para Kukui e depois para Hala e Elio.


    — Não se preocupe Lillie, eu confio em Hala com minha vida, ele é o nobre Kahuna dessa ilha, se tem uma pessoa que você pode ter segurança sobre Nebby é com ele. E Elio é meu sobrinho, filha de minha prima, então também confio nele — Kukui deu um sorriso simpático olhando para Elio. Lillie por outro lado parecia que ia ter um infarto com a surpresa da revelação da relação de Kukui e Elio. Depois olhou para o chão admitindo a relação de Nebby em toda aquela confusão.


    — Ele saiu correndo em direção ao território Tapu quando viu Tapu Koko voando no céu. Eu não poderia deixar ele ir sozinho e imaginei que poderia descobrir alguma coisa sobre Nebby lá — Lillie encarava o chão com tanta força que Elio chegou a pensar que ela pudesse ver através dele.


    — Entendo… — Kukui colocou os dedos no queixo como pensando — uma boa hipótese, mas se tivesse mais confiança em mim e esperasse poderíamos ter ido conferir essa hipótese sem ter colocado sua vida e a de Elio em tamanho risco. Ele quase morreu. 


    Lillie pareceu ter levado um choque com as palavras duras de Kukui.


    — M-mil perdões, Elio — a jovem começou a chorar baixinho.


    — Por favor, não se cobre tanto, e-eu também não deveria ter te seguido.


    — Não mesmo, deveria ter avisado alguém — Kukui continuou a repreensão agora com Elio. Mas se virou para o Kahuna que estava de pé de frente para uma janela, pensativo — Senhor Hala, mas agora, o que significa essa Pedra Cintilante ter parado justamente nas mãos inconsequentes de meu sobrinho recém chegado?


    — Não sei ao certo, esse tipo de acontecimento dramático só acontece quando tapu Koko escolhe um Kahuna, e definitivamente foi algo intencional, pois como o garoto falou, o senhor Koko apareceu para ele no avião também — Hala continuou encarando a mata pela janela que dava em direção ao caminho Tapu — Acho que isso significa que Koko requer que Elio faça o desafio das Ilhas.


    — Faça o quê? — Elio tentou acompanhar a conversa mas estava muito mais confuso do que se estivesse num seminário sobre evolução Pokémon.


    — O desafio das ilhas, Elio — Kukui continuou explicando — o rito de passagem para Jovens treinadores de Alola, é um rito sagrado que é praticado em Alola há muito tempo. Se Tapu Koko, que é o ser sagrado de nossa ilha, Melemele, que te deu isso significa que você não foi só convidado, mas convocado.


    — Mas o que isso significa? O que eu devo fazer? — Elio travou outra vez.


    — Você deve sair em uma jornada Pokémon, como vocês jovens dizem, pelas ilhas de Alola desafiando os capitães do desafio das ilhas — Hala se virou para o garoto.


    — Uma jornada Pokémon? — As pernas de Elio estavam bambas — Não posso sair em uma jornada, não tem chances, acabei de me mudar, nem tenho meios e tem minha mãe também… Passe essa missão para outro mais capaz.


    — ELIO! — Kukui fez o garoto se calar — não vai funcionar assim, ma boy, Tapu Koko é uma criatura muito temperamental, ele não pode ser contrariado, ele pode ser o guardião dessa ilha quando está de bom humor, mas de outra forma ele pode ser o flagelo de Melemele. Se ele deu essa pedra para você, ele quer você, e sabe-se lá o que ele pode fazer se for contrariado.


    — Mas o que ele pode fazer? Ele é um pokémon, não é? — Elio não sabia mais o que estava falando.


    — Uma destruição catastrófica — Falou Hala em tom profundo — Mas no fim a escolha é sua Elio, mas fique sabendo que todas as nossas escolhas têm uma consequência, e nos seus ombros agora tem o peso da segurança de toda a ilha de Melemele.


    — Mas isso não é possível, eu acabei de chegar… — Elio murmurou, sabendo que provavelmente não seria escutado.


    — Vá para casa, meu sobrinho, e pense nisso — Kukui colocou as mãos nos ombros de Elio com força — você tem só até no máximo às 18h horas de hoje quando começa o festival, de preferência antes.



    Kukui decidiu acompanhar Elio até em casa e ajudá-lo a explicar a situação para sua mãe. Lillie seguia Kukui, para que ele ficasse de olho nela. O garoto nem se viu passar pelo meio do festival até ter chegado em casa e escutado em silêncio enquanto Kukui contava toda a situação omitindo partes estratégicas como a queda da ponte.


    — O QUÊ? ELIO KALEO SUNDERS! — Kaylane puxou o garoto pela orelha e o sentou em um banquinho enquanto ela correu no quarto e voltou com uma maletinha de kit médico. Meowth roçou manhosamente nas pernas de Elio, enquanto Kay despejava álcool em tufos de algodão e passava sobre os ferimentos do garoto.


    — Ai, ai, ai, ai — reclamou o garoto.


    — Você nem pense em reclamar, garoto — Kay não estava pegando leve na limpeza — se não fosse essa convocação de Tapu Koko você iria ficar de castigo até completar trinta e sete.


    — M-me perdoe, senhora — Lillie parecia mil vezes mais tímida — foi tudo culpa minha ele acabar todo machucado desse jeito.


    — Não se preocupe meu bem, o Elio já sofreu danos piores nas patas da Meowth — falou Kay olhando com carinho para Lillie entre os guinchados mudos de Elio. A felina soltou um miado feliz em notar que havia sido citada.


    —  Bom, Kay, temos que ir nessa para terminar a organização do festival — Kukui disse abrindo a porta e puxando Lillie pela orelha — Venha assistente desmiolada, falou!


    Quando a porta se fechou Elio percebeu uma lágrima escorrendo do rosto de Kay


    — Mãe, nem em um milhão de anos pensei que isso pudesse acontecer, mil perdões —  Elio encarava no chão Meowth se esfregando entre suas pernas.


    — Tudo bem, filho.


    — Você acha que eu devo fazer isso?


    — A decisão é completamente sua, my sunshine — Kay começou a limpar arranhões no rosto de Elio, a expressão dela estava tensa —  Pode ser que Tapu não faça nada, não é?


    — Não sei… Hala e Kukui pareciam bem preocupados quanto a isso.


    — E o que você sentiria se algo acontecesse?


    — O mesmo que senti quando causei a morte do papai…


    — Ei, seu bobo, nunca mais repita isso na sua vida, já disse um milhão de vezes, não foi culpa sua! — A expressão dela parecia que ia desmoronar a qualquer momento em um choro.


    — Desculpe… — Elio não poderia mais ser culpado pela morte de ninguém, não iria suportar —  Mas e a senhora?


    —  Não se preocupe, eu sou uma mulher crescida, forte e bonita — Ela parou de limpar a testa do garoto e olhou bem em seus olhos —  é claro que vou sentir falta do meu gentleman fã de idosos-


    — Mãe-


    — Mas se você sente que é responsável por algo e se omite na hora de exercer essa responsabilidade aí sim a culpa é sua.


    — Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades?


    — Se quiser usar esse exemplo nerd, que seja — Kay voltou a limpar no canto da boca de Elio. O garoto segurou a mão dela antes que chegasse a sua boca e deu um beijo na mão da mãe. 


    — Obrigado mãe! — Elio olhou nos olhos de Kay — eu vou fazer isso.



    Selene estava toda dolorida e também enjoada.


    Já fazia horas que ela estava na garupa daquele Tauros veloz conduzido por Hau, e já se perguntava se teria valido a pena aceitar a ‘convocação’ de Hau para participar desse tal ‘Desafio das Ilhas’.


    Eles haviam saído de Hau’oli logo após toda aquela confusão com a neve, claro, não antes de terem comido uma boa refeição, não poderia se deixar ser sequestrada por aquele garoto sem antes ter batido um bom rango.


    Fosse como fosse, apesar de toda essa história de deidade sagrada escolhendo ela e maldições destruidoras de ilhas, ela poderia muito bem aproveitar toda essa situação, afinal de contas uma jornada Pokémon é mais que perfeita para conhecer toda uma região.


    A viagem continuou enquanto Hau tentava contextualizá-la sobre um festival, pulseiras maneiras, danças e outros assuntos ainda menos interessantes. Selene quase torcia para que aquele Tauros pisasse de mal jeito em algum buraco e arrancasse fora a língua do garoto.


    — Entendi Hau, mas quando vamos chegar nessa maldita vila? —  Selene não tinha ideia de qual assunto ele estava falando naquele momento.


    — É o que eu estou dizendo, nós já chegamos — Ele estava esbaforido, e Selene não poderia esperar diferente, como alguém poderia falar tantas palavras em tão pequenos espaços de tempo? Claro que haviam passado horas nesse caminho, mas pareciam dias — é logo lá no finalzinho onde tem aquelas casas e as luzes, como tinha dito quando passamos do pórtico.


    — Ah, o pórtico — Ele se referia a um grande portal com dois totens hediondos de ambos os lados de dois frangos bombados muito mal encarados.


    Hau arremeteu o Tauros com força, fazendo o bovino dar uma poderosa investida na direção da vila, obrigando Selene a ter que abraçar o torso de Hau por um instante para não cair, realmente degradante. Até chegar a uma grande multidão que estava montando o tão falado festival, ela largou Hau, mas não a tempo de evitar que outros seres humanos vissem aquela cena deplorável. Hau teve que guiar o Tauros com cuidado entre as pessoas que ziguezagueavam em todas as direções. Todos quando percebiam Hau o cumprimentavam como se ele fosse uma celebridade ou algo assim e davam um sorriso malicioso ao verem Selene na garupa.


    —  Alola, Hau — falou um homem aleatório com uma travessa na mão.


    —  Alola, Paul, tudo certo? 


    — Alola, primo. Trouxe uma namorada para sua apresentação? — falou um outro otário com cara de equino.


    — Não, mano, ela vai participar do festival como desafiante.


    — Mais um? — questionou o mesmo homem.


    — Como assim, mais um? — Hau parecia confuso — deixa pra lá, preciso encontrar meu avô.


    O homem apontou na direção de uma escada que levava a uma parte superior da vila. Hau guiou com cuidado o Tauros na direção de uma escada que levava ao que parecia uma parte mais acima do vilarejo, passando por um enorme palco com uns dançarinos cobertos com roupas de mato, até chegar na frente de uma enorme casa no estilo tribal justamente quando um homem gordo de cabelos grisalhos e manto amarelo florido no estilo johtoniano saia.


    — Hau, graças a Arceus, já estava ficando preocupado, estava a ponto de mandar Kiawe te procurar, onde se meteu?


    — Vovô, não temos tempo, essa garota —  Hau apontou de costas para Selene —  ela foi escolhida por Tapu Koko para participar do desafio das ilhas, ele até deu uma Pedra Cintilante para ela.


    O rosto do velho parecia que ia explodir de espanto.


    — Mais um?


    — Mais um? — Hau parecia tão confuso quanto o velho, o que fazia a cara de ambos ficar muito igual. 


    Até que atrás do velho saiu um homem de jaleco branco e peito nu por debaixo, com um boné branco e óculos verdes. Ele olhava confuso para Hau, Hala, o Tauros e Selene. De trás do bombadão de jaleco apareceu um garoto vestido como um Empoleon engomadinho, era inconfundível.


    Ao mesmo tempo, ela e o garoto se assustaram ao perceberem.


    — Você??



    { 2 Comentários... Leia-os abaixo ou Comente! }

    1. Como havia dito, já sabia como o inicio do capítulo seria. Lillie como sempre muito fofa e preocupada com o Elio.

      Ainda assim após a aparição das lendas (Selene e Hau) o capítulo melhorou ainda mais (já deu para perceber que me tornei quase que fã de carterinha desses dois).


      " Hau arremeteu o Tauros com força, fazendo o bovino dar uma poderosa investida na direção da vila, obrigando Selene a ter que abraçar o torso de Hau por um instante para não cair, realmente degradante "

      Fofos, mas realmente só consigo vê-los como "quase" amigos. Você já sabe com quem shippo o Hau ainda que ele não tenha dito uma fala com a personagem uma única vez.

      Foi muito legal ver como os dois protagonistas principais voltaram a se encontrar, é realmente o destino e não tem como eles fugirem disso. Só sinto pena do Elio, porque a Selene é realmente demais para ele, para o Hau e para todos alí...

      Mal eles sabem que a escolhida para o desafio da ilha foi uma ex membro de uma organização criminosa.

      Agora estou realmente curioso para o que vai acontecer, os personagens estão todos reunidos está na hora de ver como irá se desenvolver a relação entre eles, Hau-Elio, Hau-Lillie, Lillie-Selene e etc.

      Posso dizer com tranquilidade que você tem em mão um dos melhores grupos de protagonistas da Neo (sshhh, não diga isso a ninguém 😋)

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      1. Hooooy Welfo, você por aqui!

        Lillie e Elio a dupla dinâmica mais tímida desse lado do Mississipi heheh vamos como eles dois são se desenvolver daí

        Hau e Selene como sempre sendo perfeitos heheh agora só o tempo dirá como essa relação vai se desenrolar. E oq dizer de Elio e Selene, esses dois vão se meter em umas confusões ainda kkkkk o destino realmente arruma uns encontros doidos, e vai ser difícil bater essa ex-team rocket, será que eles conseguem?

        Episódio que vem vai rolar o inadiável heheh prometo não contar pra ninguém kaajsk

        Muito obrigado pelo comentário, te vejo por aí e Alola!!

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