• segunda-feira, março 07, 2022




    Elio abriu um pouco os olhos. Eles ainda estavam pesados. Sua boca estava aberta e havia uma mancha suspeita no colchão descoberto ao lado de sua boca.


    Por quanto tempo será que havia dormido? 


    Ele tateou o bolso de trás de sua bermuda, tentando procurar algo, até que encontrou uma forma retangular. Retirou-a de seu bolso devagarinho e colocou diante de seu rosto, mas longe o suficiente da mancha sugestiva. Ele tocou duas vezes na tela que ligou. A luz ofuscou seus olhos forçando-o a recuar um pouco. 


    Eram por volta das 2 horas da manhã, mas não podia ser, tinha luz do dia entrando de sua janela por trás das cortinas blackout. Só então ele lembrou que agora estava em Alola depois de uma longa viagem. Por um instante um sentimento de melancolia passou por seu coração, mas o garoto o afastou usando a mente para converter a hora segundo o fuso-horário. Por seus cálculos já deveria ser umas... 15h? Sua mãe havia feito de novo, deixado ele dormir mais do que deveria.


    O garoto se levantou em um sobressalto, jogando a pequena Meowth que dormia em suas costas para o outro lado da cama. A felina aterrissou e se espreguiçou. Elio limpou a boca com o braço e correu até a sala. 


    Estava tudo completamente diferente de como estava antes de ele ir dormir, tudo estava organizado, um brinco. A luz de Alola penetrava a sala pela porta dupla de vidro lateral que estava aberta deixando a brisa entrar suave, fazendo as cortinas brancas que ladeavam a porta dupla dançarem suavemente. A cozinha integrada estava com todos os talheres pendurados por ordem de tamanho, e o que era aquilo sobre a ilha da cozinha? Frutas frescas? Quando que ela teve tempo de arranjar frutas frescas?


    — MÃE?! Você me enganou. De novo!!


    — Oi filho, já acordou? — a mulher parecia ignorar completamente a indignação do jovem.


    — Você limpou tudo, eu disse que ia te ajudar. Não era pra você trabalhar sozinha!


    — Não esquenta, filho — a mulher sorria como se tivesse visto um bebê tentando falar palavras complexas — eu acabei ficando sem sono e dei uma adiantadinha.


    — Adiantadinha? — Como poderia tanto cinismo? - você terminou tudo!


    — Ficou bom, né? — a mulher olhou orgulhosa para seu trabalho.


    — Bom ficou, mas não é esse o ponto-


    — Ei, olha que louco, parece que tá nevando em algum lugar de Alola! — Kay trocou de assunto como se não houvesse mais nada a ser conversado. Enquanto mostrava um vídeo em seu celular.


    — O quê? Mas não estamos no verão? — Elio também esqueceu do que estavam a discutir, um mistério sempre era algo mais importante.


    — Pois é, aconteceu umas horas atrás lá em Hau'oli. O aquecimento global tá uma loucura!


    Elio tinha uma incômoda sensação de que aquilo poderia ser mais que o aquecimento global.


    — Ei, Elio, daqui a pouco umas amigas da sua falecida avó vão estar vindo aqui, e eu sei que você gosta de gente velha…


    — Ei!


    — … Mas queria que você desse uma passeada pela vila, vê se consegue algum resultado com o Metatron, talvez por ele estar na região de origem ele fique melhor.


    — Tem certeza?


    A mãe do garoto acenou de forma positiva.


    — Além de que hoje vai acontecer um festival, então é uma ótima oportunidade para você conhecer o lugar e as pessoas.


    — Sozinho? 


    A pergunta do garoto foi silenciada pelo toque da campainha.


    — A pokebola do Metraton está sobre o balcão, pega e vaza.


    Não tinha muito o que fazer, então se direcionou até o balcão e pegou a pokébola do Pokémon de seu pai, uma esfera negra com linhas amarelo-dourado e uma na parte superior menor que era vermelho-carmesim, uma Luxury Ball. Ele se dirigiu até a porta, onde já se encontravam 3 senhoras simpáticas com mais pratos e refratários nas mãos, dessa vez de doces.


    — Então esse é o Elio? — perguntou a mais alta, ajeitando os óculos Como cresceu.


    — Sou sim, é um prazer, senhoras — Elio respondeu educadamente aparecendo por detrás da mãe que atendia a porta — Muito obrigado pelos pratos de mais cedo, estavam uma delícia.


    — Oh, o prazer foi nosso, nada como ajudar vizinhos recém chegados — uma outra senhora respondeu sorridente.


    — Pode acreditar, ele amaria ficar para conversar mais com a gente — Kaylane olhou para o garoto como se os dois compartilhasse uma piada só deles — mas já mandei ele dar uma volta para conhecer a vila. 


    A terceira senhora que era menor e parecia ser a mais velha se aproximou e apertou a bochecha do garoto com força.


    — Que coisa mais fofa, aproveite o festival


    — Muito obrigado! — o garoto respondeu com um sorriso enquanto passava a mão sobre a bochecha dolorida.


    O menino saiu com a esfera negra em mãos, com a intenção de liberar o Pokémon assim que saísse, mas quando o fez deu de cara com uma nova vila que não estava alí quando entrou dentro de casa horas antes, uma vila composta só de barraquinhas, de todos os tipos: de comida, de frutas frescas, roupas, de badulaques e bugigangas, além de mini totens religiosos e outros souvenires. 


    As barracas ainda não estavam completas, mas com o esforço de todas aquelas pessoas já dava para ter uma noção do tamanho e da beleza que iam ficar. O garoto hesitou em liberar o Pokémon ali na frente de todos, não queria passar vergonha na primeira vez sendo visto pela vila, embora com certeza a atenção deles não estivesse voltada para ele.


    O garoto desceu os degraus enquanto diminuía a esfera e a colocava em seu bolso, com cuidado. Não sabia por onde começar a explorar, eram tantas coisas acontecendo que nem tinha noção de pra onde olhar primeiro. Ele foi andando enquanto algumas pessoas olhavam para ele e os saudavam com sonoros "Alola". O garoto não entendia o motivo de eles ficarem repetindo o nome da região, estava bem claro que eles estavam em Alola. Mas seguiu o fluxo respondendo algumas vezes com "Olá-la" ou "Alô-lá". As pessoas faziam uma expressão engraçada de espanto e depois riam. Outras mulheres, jovens, com roupas floridas o abordaram com saudação e colocaram um colar de flores laranjas e vermelhas em volta de seu pescoço.


    — Bem vindo a Alola! — falaram com um grande sorriso no rosto. 


    O garoto agradeceu timidamente. Por um instante ficou surpreso com o quão bem eles recebiam novos moradores da vila. Só depois percebeu que na verdade achavam que ele fosse um turista como tantos outros que andavam por ali. E olhando para eles o garoto podia entender o motivo, era bem óbvia a cara de deslumbramento e ao mesmo tempo de perdido que os turistas tinham. E ele imaginou estar fazendo as mesmas expressões. De fato, ele até preferia assim, já que desse modo não precisaria ficar respondendo perguntas sobre a mudança, a arrumação e outras coisas, talvez mais invasivas, que normalmente se perguntam nesses momentos.


    Resolveu então rumar para aquela parte alta no centro da vila onde tinha visto o pico de uma construção triangular mais cedo, estava louco para investigar o que era aquilo. O garoto andou poucos metros por entre as barracas e as pessoas que lhe ofereciam de tudo pelo "menor preço". O garoto só agradeceu a cada oferta com um sorriso desconfortável e um aceno de mão e seguiu seu caminho. No meio do percurso também pode ouvir pessoas comentando sobre a neve que caíra mais cedo pelas bandas de Hau'oli, expressando todo tipo de teorias para o fato, desde aquecimento global, como sua mãe dissera, à algo como castigo dos deuses, mas quanto à isso ele não entendeu muito bem.


    Chegando ao centro da vila, logo ao pé dos lances de escada que levavam ao topo da parte alta da vila, ficou admirado como tudo estava ainda mais incrível. Um totem gigante ficava no centro da vila onde todas as ruas laterais se encontravam, em uma porção de terra semi-circular que se escorava na elevação para a parte mais alta da vila. Era lindo, mas ao mesmo tempo assustador, era colorido em vários tons de amarelo, com manchas brancas e pretas e com a aparência emplumada de uma ave de guerra muito zangada. Ele se perguntava se era para atrair turistas ou repeli-los. O garoto desconsiderou a última hipótese vendo um casal de turistas tirando fotos na frente dele. Mas algo naquele totem era muito familiar e isso incomodou o jovem que tentava associar com algo que havia visto. Até que sua mente deu um estalo e se lembrou daquela coisa no avião… Uma ave raivosa maligna. Mas não tinha sido bem isso que tinha visto, ao menos ele achava.


    Ainda confuso, Elio viu um senhor barrigudinho de cabelos brancos, pele morena e de olhos puxados como as pessoas do país de Índigo, até mesmo suas roupas tinham um ar mais johtoniano. O homem segurava uma enorme caixa sobre os ombros com um braço, tentando se abaixar para pegar outra que estava no chão com um monte de coisas que não conseguia identificar dali. Elio foi instintivamente ajudar o senhor, parece que no fim sua mãe tinha razão, ele gostava de gente velha — de idade — corrigiu a sua mãe mentalmente.


    — Deixe-me ajudar — o garoto iniciou a conversa se abaixando para pegar a caixa.


    — Alola, muito obrigado, meu jovem! — o senhor de pele morena respondeu com um sorriso, embora sua voz fosse áspera por conta da idade — mas visitantes não precisam ajudar.


    — Ah não, não sou turista, me mudei para cá hoje — já era hora de desfazer o mal entendido para alguém.


    — Ah, entendo, então você deve ser o filho da prima do Kukui que se mudou, não é? — o senhor começou a caminhar e acenou para o rapaz o seguir.


    — Isso mesmo, me chamo Elio, é um prazer conhecê-lo — Se apresentou tentando levantar a caixa que estava fechada, por isso o garoto não conseguiu identificar seu conteúdo, mas com toda certeza não era algo leve.


    — Prazer, Elio, realmente um cavalheiro — o homem começou a subir os degraus para a parte superior da vila — Era de se supor, foi criado em Galar, não é?


    — É… fui sim — respondeu, sem graça.


    — Seja muito bem vindo à Alola! Tenho certeza que irá adorar a região. Tem todo tipo de comida e Pokémon que não existem em Galar — Elio continuava seguindo o senhor pelas escadas de madeira, com dificuldade — você teve muita sorte de chegar justamente no dia do Festival do Conflito.


    — Festival do Conflito? — Elio não achava fosse um nome muito adequado para um festival afinal de contas, mas não comentou nada.


    — Verdade, você não conhece, hã? — Hala parou numa plataforma de terra que existia antes de mais degraus — o Festival do Conflito é uma festividade que fazemos em homenagem à deidade guardiã, Tapu Koko, ele é um ser que gosta muito de batalhas então acreditamos que as batalhas são a melhor forma de demonstrar nosso respeito por ele — Elio agradeceu internamente pela pausa de Hala, aproveitou para ajustar a caixa que segurava, que já estava escorregando das mãos suadas — Para isso promovemos uma batalha Pokémon.


    O homem continuou andando por mais alguns metros até finalmente chegar ao topo da escada. Finalmente haviam chegado no topo da parte alta da vila. 


    O garoto olhou para baixo e conseguiu ver toda a vila, até sua casa e o portão da entrada com os totens assustadores à uma boa distância. Ainda mais longe, após uma linha verde quase homogênea, conseguia ver no horizonte uma grande massa azul que deveria ser o mar, uma visão de tirar o fôlego. 


    Virando-se para frente, na parte alta da vila, num canto mais distante, havia uma grande casa no que ele conhecia ser o estilo alolano de arquitetura mais clássico. Uma grande casa com sua frente triangular com dois anexos, um de cada lado, todos cobertos por telhados de palha, cuja ponta proeminente deveria ter sido a estrutura que havia visto lá de baixo. A casa era verde com detalhes de desenhos tribais diversos em preto, que parecia à Elio como se a residência fosse tatuada.


    Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o grande tablado de madeira no centro da parte alta da vila, uma madeira da cor mais viva que já vira, polida com muito cuidado. Pelo padrão ele poderia perfeitamente comportar uma batalha Pokémon, embora não tivesse as definições técnicas da liga de Galar. Sua superfície era desenhada com padrões brancos que o garoto achou muito familiar.


    — Esse, Elio, é o local onde acontece a Batalha Cerimonial — O senhor apresentou o local com muito orgulho. 


    — Incrível! — Elio estava legitimamente surpreso com a sorte que tivera em chegar justo naquele dia, e estava animado para ver uma batalha ao vivo novamente.


    Em comparação a miscelânea de barracas que havia na parte baixa, a parte alta de Iki parecia bem mais vazia, não havia uma barraca. Mas não estava menos enfeitada, pelo contrário, parecia ainda mais bonito, mais harmonioso, com misturas de preto, branco, amarelo e laranja. 


    As mulheres que estavam arrumando os enfeites pareciam coordenadas por um jovem que parecia ter entre 18 à 20 anos de cabelo rosa claro e roupas estilosas que mais pareciam de um modelo kalosiano, que misturava branco com tons de marrom. 


    Outras pessoas que arrumavam o lugar andavam de um lado para o outro apressados, alguns homens em roupa vermelhas gesticulavam olhando para o céu. 


    Dançarinas de hula treinavam no tablado, algumas mais jovens pareciam super nervosas e quando erravam um passo, na visão delas, pois para Elio dançavam extraordinariamente bem, paravam e recebiam conselhos das mais velhas e puxões de orelha das mais impacientes.


    Logo que o garoto de cabelos róseos viu o senhor e Elio se aproximando, abriu um sorriso e veio em sua direção.


    — Então, senhor Hala, conseguiu?


    — Tudo aqui, Ilima, o resto pedi para o Hau trazer quando viesse da apresentação que ele foi fazer em Hau’oli ontem.


    — Só ele para fazer uma apresentação em um casamento no dia anterior à saída dele para o desafio.


    — Sabe como ele é — Hala parecia muito orgulhoso — ama muito tudo isso de música — Hala se virou para Elio — Muito obrigado pela ajuda, primo, vou ficar com essas caixas por agora, fique a vontade para aproveitar o festival — O homem agradeceu com um grande sorriso e pegou com uma só mão a caixa que Elio havia levado com muito esforço com as duas.


    — P-por nada, senhor — Elio viu ambos se afastarem muito compenetrados na organização do evento. Até que ambos olharam para o céu, quando um grande Charizard desceu sobre o campo de batalha. 


    — Até que enfim, Kiawe — Ilima disse sorrindo. E foi a última coisa que ouviu até estar longe demais para escutar o que conversavam.


    Agora que estava ali o garoto não sabia bem o que fazer, até que percebeu que algo o encarava. Um grande totem emplumado com olhos raivosos.


    Tapu Koko, pensou consigo mesmo, uma deidade que gosta de batalhas…


    O garoto estava muito confuso, será que o que ele havia visto no avião era de fato real? E se sim, poderia ser aquela deidade? E se enfim fosse, porque aparecia justamente para ele? Ainda com essas perguntas em mente, olhou para frente, pois um vulto chamou sua atenção. Uma garota totalmente de branco e cabelos loiros e uma enorme bolsa espreitava entre arbustos em direção à uma trilha de terra que levava para o topo da montanha. A trilha era ladeada por dois outros totens de pedras negras da deidade, esses menores e duas vezes mais medonhos. A garota conseguiu passar sem que ninguém percebesse, entrou na trilha e desapareceu da vista de Elio.


    O garoto não ficou parado, foi como se seu corpo estivesse sendo controlado por sua curiosidade. Pulou para trás de uma moita alta, se esgueirando pelos arbustos aproveitando a distração das pessoas com o Charizard e seu montador. Quando chegou na entrada na trilha viu uma placa que lia: “território Tapu, entrada restrita”. Aquilo obviamente não era certo, ele pensou seriamente em voltar, até se virou para dar a volta, mas sentia que devia seguir. 


    A garota deve ser uma dessas pessoas autorizadas, falou a si mesmo para tentar se convencer. Mas óbvio que isso não era verdade, de outro modo, qual seria o motivo para a garota loira estar se esgueirando? Definitivamente era algo de natureza proibida. O garoto desistiu de desistir e seguiu, transpondo a placa e marchando pela pequena rota de chão batido.


    A pequena rota seguia entre dois paredões de terra, como se essa tivesse sido escavada no solo. Do topo das duas extremidades dos paredões se projetavam árvores frondosas cujas as copas se encontravam no alto acima da cabeça de Elio, bloqueando a passagem livre da luz e dando um aspecto sinistro ao caminho, com apenas alguns filetes de luz penetrando timidamente por entre as folhas. Para complementar, a cada certo intervalo o caminho tinha dois totens paralelos, um de cada lado da trilha, com aspectos que pareciam ficar cada vez mais sinistros conforme o garoto avançava. 


    O som ia ficando cada vez mais distorcido e distante, e a trilha que antes parecia reta e plana tornou-se mais e mais elevado e cheia de curvas, algumas tão fechadas que não conseguia ver o outro lado do caminho, às vezes dando de cara com um paredão e só percebendo que o caminho continuava de um lado ou de outro ao chegar bem mais perto. 


    Até que após subir metros o suficiente para os joelhos do garoto começarem a doer o silêncio era total e opressor, só sendo interrompido por algumas lufadas de vento que sopravam a copa das árvores. O som do vento pareciam sussurros sinistros ou gritos mudos. A ideia da deidade da ilha ser um ser do conflito logo se manifestou em sua mente. E imaginou que aqueles sussurros pudessem ser de guerreiros de guerras e conflitos de todos os períodos do tempo, guinchando desde o longínquo passado daquelas ilhas milenares. Tal ideia fez os ossos de Elio estremecerem e com vontade de correr sob o mesmo rastro que viera. Mas teimou consigo mesmo e seguiu.


    Até que viu uma pequena luz à frente que foi aumentando, mas antes que pudesse alcançá-la ouviu um grito, mas agora não era o vento, nem sua imaginação, era real, audível, e feminino. Estava alguns metros à frente dele, após a luz. O garoto travou, havia quase esquecido do motivo que o levara a subir tão alto dentro dessa trilha, então pegou a pequena esfera que havia guardado em seu bolso ao sair de casa e se pôs a correr.


    Alcançando o fim do túnel e saindo à luz seus olhos foram fustigados e teve que parar até sua visão se acostumar. O que primeiro viu foi o topo da montanha à poucos metros acima, tão perto que podia ver a silhueta das árvores do pico, viu até o que parecia ser a entrada de uma caverna bem perto do topo, mas não teve tempo de distinguir os detalhes, pois bem mais perto de si outra cena chamava mais atenção. 


    A garota de antes, de roupas brancas e chapéu branco estava ajoelhada ao chão de costas para Elio, com o olhar fixo em um ponto específico à sua frente. O ponto para que ela olhava estava em meio à uma ponte de cordas e tábuas bem rudimentar, daquelas bem velhas que se vêem em filmes de arqueólogos exploradores, que se projetava sobre um precipício na encosta do pico da montanha, antes da trilha que parecia levar para a caverna. 


    O garoto chegou a escutar um barulho muito forte vindo lá do fundo do precipício. Era algo como uma enorme multidão batendo palmas em um programa de auditório ou em um estádio da Champions de Galar, só que era mais irregular do que ritmado. 


    Era o som de uma corredeira, uma muito forte.


    No ponto no meio da ponte para qual a garota olhava se encontrava uma pequena esfera roxa e azul escuro como a noite e brilhos que mais pareciam estrelas. Era como olhar para uma nebulosa, essa nebulosa, por sua vez era circundada por muitos Spearows raivosos que atacavam a esfera — que agora Elio percebera ser um Pokémon que nunca vira antes na vida — usando suas garras afiadas e bicos compridos. Elio se aproximou da garota que não o havia notado, ela chorava paralisada observando aquela cena tenebrosa, murmurando algo.


    — Nebby, não, é culpa minha… — intercalando com gritos - NEBBY!!!


    Elio percebeu que deveria fazer alguma coisa. Mas suas pernas estavam paralisadas agora que o perigo se tornara concreto. A garota finalmente percebeu Elio ao seu lado.


    — Por favor, ajude o Nebby! — ela gritou desesperada, após olhar profundamente nos olhos de Elio por um segundo. 


    Elio despertou de seu transe, lançou a pokébola que estava em sua mão, a esfera negra se abriu com um brilho dourado reluzente, de dentro se materializou uma rocha com 5 hastes que mais lembravam espinhos metálicos. Ela flutuou por um instante e depois caiu com todo seu peso, como um pedregulho no chão, sem esboçar nenhuma reação.


    — Metatron, por favor, não me deixe na mão, não agora — Elio implorou a pedra com nervosismo na voz - preciso de sua ajuda.


    A rocha não esboçou reação, como de costume. Elio olhou para ela e depois para o bando de Spearow que atacavam o Pokémon nebulosa impiedosamente. Seus pés se moveram sozinhos. Avançou em frente passando o Pokémon rocha fincado no chão, e chegando na ponte, não hesitou até perceber que estava no meio da esteira de madeira. O garoto olhou para baixo e pôde ver lá no fundo do penhasco uma forte correnteza que de tão rápida corria quase branca entre pontos negros, que mais tarde percebeu o garoto, serem rochas. Quanto mais olhava mais alto parecia estar, e cada vez mais longe parecia o rio lá no fundo. 


    De seu lado esquerdo podia ver a cachoeira que gerava a corredeira, ela penetrava a montanha, o leito escavado formando uma parede de cada lado, criando aquele precipício, com toda certeza resultado de uma erosão milenar, mas não conseguia ver muito mais longe por cima da cachoeira. Do lado direito conseguia ver o rio seguindo sinuoso entre o penhasco até desembocar ao longe em uma linha vertical azul, o oceano ao longe.


    A ponte balançava tanto com seu peso e o movimento dos Pokémon atacando que não conseguia perceber mais detalhes. O garoto avançou mais lentamente pisando com cuidado nas madeiras que rangiam alto, ocasionalmente pulando entre fissuras e tábuas faltantes. As tábuas estavam lisas e com limo nas cordas, provavelmente por conta da umidade da queda d’água. Enquanto prosseguia gritava para os Pokémon ave:


    — Saiam daí, deixem ele em paz! — gritou a plenos pulmões. As aves nem esboçaram reação.


    Os Spearow davam rasantes, voavam em círculos e voltavam a atacar a esfera, que agora mais próximo Elio percebia não ser uma esfera, ele tinha dois apêndices laterais com que tentava cobrir o rosto. O corpo era realmente como estar olhando diretamente para o espaço profundo ou para uma nebulosa daquelas fotos da NASA. O garoto não se deteve muito mais pois o pequeno Pokémon chorava desesperadamente entre os grasnados enfurecidos dos Spearow.


    O garoto avançou com força sobre um das aves, tentando em vão lhe agarrar as patas. Como não conseguiu, pôs em prática seu plano B e lhe deu um soco em pleno ar. A ave espantada vacilou no ar e, voltando-se para Elio, atacou com seus bicos e garras afiadas, abrindo vergões nos braços do garoto, obrigando-o a proteger o rosto da investida furiosa da ave. Percebendo o combate de seu aliado, algumas outras aves saíram de cima da pequena nebulosa e se puseram a atacar Elio. Uns as pernas do garoto, outros as costas e o outro braço. O garoto urrou de dor, mas se abaixou sobre a pequena nebulosa para a proteger dos golpes, cobrindo-o com seu próprio corpo.


    O choro do Pokémon assustado doía aos ouvidos de Elio, como rajadas de ondas sônicas. Mas de repente não eram mais só rajadas sônicas, tinham cores, uma aura azul poderosa que saia do corpo da pequena criatura abaixo de si, que ainda chorava, o tempo todo com os olhos fechados. A energia que ela emanava era estranhamente familiar. A onda se expandia em intervalos regulares fazendo a ponte ranger e balançar como uma gangorra muito velha. Os intervalos entre os golpes das aves se tornaram menores e pareciam acertar mais de raspão, de forma atrapalhada ou errante.


    A ponte de cordas deu mais um balançado crepitante e Elio pôde ouvir atrás de si o som brusco de algo se rompendo e chicoteando o ar com força, como quando se bate com uma corda no ar, só que deveria ser uma corda enorme, pois podia se ouvir o barulho ressonante, parecido com o que fica no ar quando um trovão corta o céu, zunindo nos ouvidos. 


    De repente Elio não sentia mais a segurança bamboleante das tábuas da ponte. Seu corpo parecia mais leve, sua barriga começou a gelar como se seu interior estivesse congelado. Estava suspenso no ar!


    O mundo começou a girar, viu o céu azul acima com borrões acinzentados, e pensou que iria chover dali a pouco. Os vultos emplumados em cima de sua cabeça, os penhascos e as manchas verdes da floresta, uma mancha branca com contornos femininos. Por fim a corredeira branca com manchas negras e esverdeadas da água do rio, que ia se aproximando e se aproximando.


    Elio estava caindo em direção ao rio lá embaixo, estava caindo em direção à morte.


    { 2 Comentários... Leia-os abaixo ou Comente! }

    1. Meu bebê Elio voltou a aparecer.

      Pensei que depois de um capítulo tão dinamico quanto o antigo, as coisas iriam se acalmar e realmente se acalmaram por bem... meio do capítulo até trazer toda aventura e drama novamente com a introdução tipíca dos jogos sobre a sua prespectiva.

      Tivemos então a aparição de Lillie do seu Nebby, que muitos de nós já sabemos quem é a criatura, ainda assim espero ficar supreso em como pode trazer reviravoltas na história para não torna-la tão semelhante a história dos jogos (não que existir semelhança seja algo negativo!).


      Elio mostrou-se ser uma pessoa corajosa, um pouco inresponsavel, mas sem dúvida alguma corajosa. Isso veio com um preço e meio que já sabendo como irá terminar (POR TER RECEBIDO MEIO QUE UM SPOILER... ) quero ver como as coisas irão se desenrolar após a cena do spoiler kkk.

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      1. Nosso filhinho em cenaaa

        kkkkk muitos spoiler que tu pegou, mas vamos que vamos. Elio aqui mostrando mesmo tímidos têm seus momentos de coragem, e também de irresponsabilidade, veremos oq o futuro nos reserva para esses quatro jovens.

        Alola e te vejo por aí!!

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